O sucesso individual é uma meta quase universal. Mas há quem enxergue além.
Existem os que não se satisfazem com o êxito solitário e lutam para que os outros também sejam bem-sucedidos. Em qualquer grupo ou nação, esses são os essenciais.
Chico Maia é assim. Artista versátil, curador, professor, ele compartilha conosco pontos de vista baseados numa compreensão profunda do cenário das Artes no país e no mundo. Avesso aos rótulos, Chico fala com a autoridade de quem faz, de quem vive e executa aquilo que ensina. Nesta entrevista, ele nos aponta caminhos em direção a uma Arte menos elitizada e a um Brasil com mais Educação e mais Justiça.
Para começar, conte para nós um pouco sobre a sua trajetória.
Sou artista plástico formado pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Pesquisador sobre sistema e mercado de Arte para o programa de Mestrado na EBA-UFBA. Gestor e curador de um projeto de Arte chamado B.arte onde além de uma galeria comercial de objetos de arte, desenvolvo cursos de artes, projetos em coletivo com outros artistas e atividade produtora individual como artista multimídia.
A arte e o social sempre andaram juntos?
No meu entendimento a Arte é inerente ao homem, logo sua competência e sentido é absolutamente social. E sempre esteve presente e faz parte da história da humanidade.
Quais suas principais influências?
Como artista eu curto e pesquiso sobre o trabalho de Kandinsky, Miró, Mondrian, dentre inúmeros outros nomes. Na literatura gosto do entendimento de Maria Amélia Bulhões sobre o sistema e o papel da arte na sociedade contemporânea.
Qual a razão de ser da Arte? Arte tem de ter razão de ser?
Uma resposta muito complexa para ser dita de maneira objetiva.
Há muitos anos seu trabalho contribui para que a arte no Brasil seja menos elitizada. Como você vê esse processo nos dias de hoje?
A Arte é elitizada. Não temos uma cultura de popularização que ofereça acesso para o grande público. Apenas um público mais seleto, social e financeiramente, tem acesso às possibilidades que a Arte oferece.
Fala-se em “arte comercial” e “arte engajada”. Como você avalia estes rótulos?
Rótulos são convenções que procuram enquadrar e reduzir de maneira simplória tudo que aceitar seus termos. Isso não se aplica à Arte. Ela acontece de forma independente ao modo como é possível entendê-la, falar ou teorizar. Não há unidade nem convenções ao tratar do quesito Arte, em geral. Não existe um conselho de Arte, um órgão idôneo de representação unanime, etc. Acho que rótulos correspondem à falta de conhecimento de muitos que não entendem do assunto com clareza. Ou aos interesses particulares de determinados grupos que querem se distinguir de outros usando argumentos não fundamentados.
Como viver de Arte no Brasil?
Bem difícil no contexto geral e muito pior para algumas regiões em particular.
Por que o artista e a própria Arte não são valorizados? É só no Brasil que é assim?
Existem vários segmentos daquilo que a maior parte das pessoas entendem por Arte. Vários públicos, diversas categorias, etc. Tais como Arte popular, Arte decorativa, Arte funcional, etc. Em outros países as regras do jogo são mais claras e o passo a passo mais evidenciado. No Brasil a situação é mais complexa devido à falta de organização do segmento pelos próprios artistas, pela ausência de publicações idôneas, pela falta de políticas públicas, de equipamentos públicos para a circulação da obra, etc.
O que pode ser feito para melhorar essa situação?
Na minha opinião o primeiro passo é estimular uma consciência coorporativa para a categoria dos chamados ‘artistas’, fazer representação desta categoria diante das secretarias de cultura municipais e estaduais, desenvolver canais de discussão temática para educar, esclarecer e orientar a categoria em geral, formando conhecimento e consciência profissional.
Qual o papel das galerias? Elas realmente estimulam o desenvolvimento da arte?
Seu papel é fazer circular a obra de Arte e representar pública e institucionalmente o artista. Elas representam uma das instituições que formam a base do sistema de Arte e são fundamentais para o seu desenvolvimento.
Os problemas vividos nas Artes Plásticas são os mesmos da Música, do Teatro?
São bastante diferentes, com certeza. Essas artes mencionadas têm estruturas consolidadas, são o foco da indústria de entretenimento e do mercado cultural, e são menos exigentes na compreensão da obra pelo público, de um modo geral.
Quanto o sistema educacional pode contribuir para a valorização da arte?
A educação é a base de formação do saber. Ter conhecimento sobre a Arte, suas estruturas de construção e de sua operação é fundamental para garantir uma sociedade mais culta e apta a valorizá-la.
Faz sentido esperar por iniciativas governamentais ou a classe artística pode conseguir as mudanças necessárias sem apoio do governo?
Acredito que os dois caminhos precisam acontecer em consonância para garantir um ‘estado de Arte’ mais amadurecido.
A arte digital é o futuro?
Acredito que Arte Digital é mais uma possibilidade dentre tantas. Não um fim, mas um meio.
Como você avalia o papel da Internet para a promoção e divulgação do trabalho artístico?
É Fundamental, oferece muitas possibilidades. Porém, utilizado de forma inadequada por muitos profissionais do segmento.
Que orientação você dá para quem está chegando?
Que adquira conhecimento, que pesquise, que fundamente sua produção e conheça as regras do jogo.
@chicomaia_curador
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