O trabalho da UP Time Art Gallery é inspirar e fascinar através da Arte. Nossos artistas apresentam trabalhos que retratam nossas emoções, nossas causas, nossas vidas. O público sempre quer conhecer o artista por trás da obra. Quem é, como pensa? Que história de vida levou a esse trabalho?
Hoje conosco, Mazé Andrade!
Mazé Andrade
É com imenso prazer que damos início a esta entrevista com a renomada artista paraibana, Mazé Andrade. Há décadas radicada no Recife, Mazé emergiu como uma figura notável no rico panorama artístico brasileiro. Sua jornada artística, que teve início nos anos de 1979, é um testemunho de dedicação, criatividade e uma busca incessante por uma expressão autêntica.
Mazé Andrade mergulhou nos estudos em Artes, explorando técnicas diversas sob a tutela de mestres como Aurora Lima, José de Barros, Suely Cisneiros e Hélio Soares. Essa formação sólida se reflete em sua obra multifacetada, que abarca pintura, escultura, gravura em metal, cerâmica e litogravura.
Com mais de 45 exposições coletivas e individuais em diversas cidades brasileiras e em locais tão distantes quanto Buenos Aires, Medellín, Terrassa, Frankfurt e Romênia, Mazé Andrade conquistou projeção internacional. Seu trabalho transcende fronteiras culturais, revelando a universalidade de sua linguagem artística.
É com grande expectativa que nos preparamos para explorar o universo criativo e as inspirações que moldaram a trajetória singular de Mazé Andrade. Que esta entrevista seja uma oportunidade de mergulharmos ainda mais fundo na mente e no coração desta talentosa artista.
1) Sua formação em Artes começou em 1979, e desde então, você explorou diversas técnicas sob a orientação de mestres renomados. Como essa diversidade de aprendizado influenciou a sua expressão artística ao longo dos anos?
Todo estudo e toda experiência acadêmica, se bem abraçada, é importante para a formação de uma pessoa, mesmo que posteriormente seja seguida ou não, contestada ou não. Não costumo negar a etimologia da palavra Arte, que vem de técnica, habilidade. Então, para mim, produzir “arte” não é apenas construir um conceito, mas os dois somados (conceito + técnica). Há artistas que têm habilidades natas, há autodidatas maravilhosos. Mas acho que estudar técnicas diferentes, com a orientação de pessoas experientes, potencializa nossa capacidade de concretizar nossas ideias e nosso processo produtivo. Sou grata aos meus mestres, bem como aos colegas com quem tive a alegria de conviver.
2) Com mais de 45 exposições coletivas e individuais em diferentes partes do mundo, como você vê a recepção internacional do seu trabalho?
E de que forma a experiência em exposições internacionais impactou sua visão sobre a arte e sua própria identidade artística? Meus trabalhos expostos fora do país foram litogravuras, sendo a maioria minigravuras. Meus primeiros contatos eram sempre por meio de coletivos locais e de amigos. Não estive presente nos eventos, mas recebia cartas convites e agradecimentos.
Na Romênia, fui convidada seis vezes para expor, sem custos. O feedback dos próprios organizadores dos salões me serviram de incentivo porque vi que meu trabalho, produzido de forma independente, estava sendo bem recebido, ou seja, havia alguma ressonância do que eu estava fazendo. Isso tem a ver com o papel da arte.
Com relação à minha identidade artística, diria que essa receptividade endossou o meu trabalho na litogravura, um período no qual me permiti mais extravasar ideias e sentimentos. Cada litogravura que fiz tinha cópias bem limitadas. Hoje guardo pouquíssimas cópias, perfazendo cerca de 40 obras diferentes. Desde a pandemia do Covid, não retornei à oficina litográfica, mas continuo produzindo esculturas em ateliê na minha residência.
3) Sua obra abrange uma variedade de formas de expressão, incluindo pintura, escultura, gravura em metal, cerâmica e litogravura. Como você decide qual meio utilizar para uma determinada ideia ou mensagem que deseja transmitir?
Tudo segue a história da minha vida como artista. Posso dizer, hoje, que perdurei mais na cerâmica e na litogravura por uma questão de identificação e pelo prazer estabelecido no contato com a matéria. Eu comecei estudando desenho com a professora Aurora de Lima. Com o professor José de Barros, realizamos muitos experimentos. Foram anos bem enriquecedores (pintura a óleo, aquarela, acrílica, gravura em metal, monotipia, xilogravura). Uma verdadeira imersão em técnicas com o intuito de aprendê-las mesmo e, quem sabe, redescobrir-me. Dessas, identifiquei-me com o bico de pena e com a pintura a óleo. Uma sucessão de eventos me fez investir no óleo, técnica a qual me dediquei nos anos 80 e 90.
Ainda na década de 90, decidi aprender cerâmica com diversas fundições. A experiência foi maravilhosa; sentimos uma verdadeira troca de energia com a terra e eu achava lindo ver “minhas mulheres” nascerem do barro e se “imortalizarem” no cimento ou na resina, dentre outros materiais. Sempre gostei de fazer mulheres, desde criança, pois era uma forma de homenagear minha mãe e, ao mesmo tempo, de procurar dissimular alguns medos e angústias que viviam dentro de mim, e que eu não sabia e não tinha como tratar. Pintava e moldava rostos serenos porque queria que as pessoas achassem que eu estava serena, equilibrada.
No período em que frequentava o ateliê de cerâmica, iniciei o curso de litogravura, uma técnica, para mim, libertadora. Assim como acontece com o barro, há uma fluidez no deslizar dos lápis litográficos sobre a pedra. Uma série de fatores, como as discussões no ambiente universitário sobre Neo Expressionismo e tantos outros movimentos artísticos, a fase psicológica na qual me encontrava, as experiências que já havia somado, estudos sobre o Surrealismo, e sempre, sempre, a fluidez e o prazer que a matéria me proporcionava ao toque, levaram-me a criar de forma mais profusa, externando ideias e sentimentos advindos de vivências antigas, desde a infância.
Litogravura - " Sobrevivência"
4) Como você imagina que suas obras interagem com o público e qual é o papel da arte na experiência humana, na sua perspectiva?
Gosto de fazer as pessoas refletirem e também se emocionarem. Muitos dos meus trabalhos demandam uma apresentação sobre a minha jornada pessoal e artística para a plena compreensão deles. Porém, agrada-me ver as interpretações de cada um; muitas vezes uma obra minha aflora uma lembrança pessoal de alguém, ou gera alguma satisfação ou inquietação. Isso tem a ver com o papel da Arte, na minha opinião.
A Arte deve mover razão e sentimento, seja elevando esse último por meio da contemplação, seja suscitando indagações e debates realmente profícuos. Ou seja, não se trata de simplesmente chocar, ou forjar algo diferente para se sobressair. Mas de nos fazer realmente refletir sobre o que faz sentindo na sociedade, no mundo e nas nossas próprias vidas, propondo-nos sair da inércia.
5) Como busca equilibrar a tradição artística brasileira com uma abordagem contemporânea em suas criações?
A arte popular está bem enraizada nas minhas memórias. Nasci na Serra da Borborema, na Paraíba, morei no interior de Pernambuco e depois vim para o Recife numa época em que não tínhamos televisão. As histórias repassadas de geração em geração, repletas de fantasias, assim como as brincadeiras, exerceram forte influência em mim. As vivências acadêmicas posteriores, os coletivos e eventos dos quais participei moldaram meu senso de estética, catalisando o uso de uma abordagem contemporânea para externar o imaginário popular, as histórias fantásticas que ouvia, sempre em comunhão com os meus sentimentos e com meu amor à natureza (presente também desde minha infância).
Litogravura
6) A sua busca por uma identidade preciosa é uma temática recorrente em sua obra. Poderia compartilhar mais sobre essa jornada pessoal e como ela se reflete em suas criações?
Como você bem falou, minha identidade emerge de uma jornada pessoal e profissional. Por isso, é preciso conhecer minha história para entender. Narro sempre meu passado como um farol para mim mesma, clareando meus passos.
Minha infância e juventude exerceram grande influência na minha personalidade. Um passado ligado à terra, à natureza, com três irmãs* e uma mãe incrível a qual tinha muito apego. Sempre fui muito introvertida; assim, uma pintura figurativa, por exemplo, não tinha apenas uma função de retrato. Era também uma forma de me camuflar. Por isso, além de homenagear as mulheres, especialmente minha mãe, vejo-me nessas representações.
Meu marido, com o qual fui casada por mais de 50 anos, também exerceu forte influência na visão social que eu tenho do meu mundo, e de outras culturas. Cientista social, foi professor da UFPE e pesquisador. Desta forma, temáticas como natureza, mulher e o imaginário popular predominam em meus trabalhos. Mas também enveredo por estudos culturais, e a vida extraterrestre me fascina. *Éramos, ao todo, seis irmãos.
7) Como você espera que suas obras sejam lembradas e qual mensagem você deseja transmitir através de sua arte para as gerações futuras?
Sabemos que o corpo se desfaz, somos mortais, mas o fruto do nosso trabalho pode ser imortalizado. Quando morremos, a fama por si só também deixa de ser importante, uma vez que não devemos nos prender a esse mundo. São as nossas lições, os nossos exemplos, o que mudamos no outro que importa. Reportemos novamente ao papel da arte: gerar contemplação, indagações e reflexões capazes de mover as pessoas para que cada um faça algo que valha a pena, sempre com a consciência tranquila de que fomos honestos conosco e com os outros
Litogravura Piscis II
Litogravura
Escultura Ouro de Ana
Escultura "Mulher Asteca"
Saiba mais sobre Mazé:
Instagram: @artes_maze_andrade
Sobre a UP Time Art Gallery:
A UP Time Art Gallery não se limita a ser uma galeria de arte itinerante; é uma força impulsionadora que difunde, democratiza e fomenta a arte contemporânea em escala global. Sua dedicação em promover a arte é inovadora e abrangente, estendendo-se também por São Paulo, onde mantém seus espaços. Mais do que apenas expor obras, a galeria busca inspirar mentes e contribuir para o desenvolvimento da consciência artística e social, abordando questões locais e globais.
Além de seu compromisso com a arte, a UP Time Art Gallery apoia os artistas em sua jornada profissional, capacitando-os a navegar no mercado de arte competitivo. Compreendendo as complexidades da mercantilização da arte, a galeria oferece suporte para a construção de carreiras sólidas e bem-sucedidas, capacitando os artistas a compreender e prosperar no mundo da arte contemporânea.
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